8.11.07

Spider Man: One More Day (Ou “Como a Marvel mais uma vez mata um de seus personagens favoritos em nome do Status Quo)”.


Quando pequeno, eu não era um grande fã de quadrinhos. Adorava super heróis, passava o dia todo imitando eles ou assistindo adaptações em desenho animado, mas nunca tinha coragem de chegar perto de uma revista.

No entanto, tudo mudou quando li pela primeira vez o homem aranha.

O desenho da capa era uma versão feminina do Venon (“A noiva de Venom” vinha escrito abaixo desta) e a edição trazia a última história da saga do clone. Como disse anteriormente, era a primeira vez que lia algo do amigão da vizinhança e lembro que fiquei maravilhado com a revelação contida nela: Peter Parker na verdade era um clone, e o verdadeiro era um tal de Ben Reilly! Eu achava que tinha um marco das histórias em quadrinhos em casa, e que um dia aquela minha revistinha seria lembrada por toda uma geração de fãs como a edição que mudou para sempre a vida do teioso.

Pobre criança inocente que eu era...

Lembro que todo mês eu gastava fervorosamente o dinheiro que juntava para comprar o Homem-Aranha e a Teia do Aranha da abril, só pra acompanhar os primeiros passos de Reilly com o uniforme. Embora não o achasse tão engraçado quanto Peter, ele era o original, e isso é o que importava para mim (E depois, o uniforme do Reilly era legal pacas... se era pra fazer um visual radical que chamasse a atenção, os editores da Marvel conseguiram. Bom, pelo menos isso deu mais certo aqui do que em Civil War...). E durante um ano acompanhei a série satisfeito, até a Marvel decidir aprontar novamente.

Imagine, eu e um monte de pessoas que acompanhavam a revista agora já aceitavam Ben como o Aranha original, e então um ano depois chega às bancas uma edição do aranha com o subtítulo “A saga do clone, capitulo final!”, que dividida em quatro partes (Ou seja, nas revistas Homem-Aranha e Teia por dois meses) revelava que, na verdade, tudo o que acreditamos nesse tempo era mentira, que Peter era mesmo o verdadeiro, o Duende Verde (?) estava por trás de tudo isso e de quebra, Ben, coitado, era um clone e ainda morria de uma forma tão ridícula que o conjunto da obra parecia uma historia de um fanfic ruim.

Depois disso eu fui aprendendo que não dá pra acreditar em “mudanças radicais” na vida de super-heróis de quadrinhos, principalmente do aranha. Se hoje um inimigo importante dele morre, daqui alguns meses ele estará de volta. Se ele for despedido do emprego, pode ter certeza que daqui a pouco ele voltará ao mesmo por uma desculpa esdrúxula.

Infelizmente, em um mundo onde os personagens continuam com a mesma idade após quarenta anos, falta originalidade para manter esse sistema. A maior parte dos roteiristas, quando fazem alguma mudança, decidem logo fazer a coisa mais radical possível apenas para deixar sua “marca” no personagem (Leia “limitar, aleijar, matar”... coisas assim). Se fosse algo bem elaborado até que tudo bem, mas na maioria das vezes não é, e então somos obrigados a ver aquele “desastre” na vida do herói que, mesmo com a editora dizendo que “mudará para sempre a vida dele” daqui a alguns meses tudo volta a ser o que era antes. E é isso o que chamamos de Status Quo, que é manter algo em suas condições mais originais possíveis.

Ok, após o extenso comentário acima, acho que eu posso ir direto ao ponto. One More Day é a última história escrita por J.M. Straczynski, criador do seriado Babilon V e que, embora escreva bons argumentos, é mais um dos escritores que querem deixar sua “marca”. Como se não bastasse dar ao herói novos poderes que em nada o acrescentam (Garras? Fator de cura? Esse é o Homem-Aranha ou o Wolverine?) agora parece que ele, e o editor chefe da casa das idéias Joe Quesada decidiram mesmo chutar o balde, ou melhor, retornar toda a vida do herói de volta ao zero.

Na trama dessa saga, após ser baleada, Tia May fica entre a vida e a morte. Então, para salvá-la, de uma forma “mágica” (???) o herói terá que decidir entre a vida de sua tia e os momentos de seu casamento com Mary Jane. E adivinhe o que o nosso amigo decidirá?

Esse sempre foi um dos maiores problemas das histórias em quadrinhos. Os escritores, sem nenhuma idéia original, decidem fazer a primeira mudança estúpida que vier pela frente apenas para “ver no que vai dar”, e no final das contas terminam complicando tanto a cronologia do personagem que decidem desconsiderar a mudança, mas como não podem fazer isso sem ferir a cronologia decidem dar uma explicação capenga, de que afinal tudo aquilo jamais aconteceu, ou foi obra de algum grande vilão, etc...

Explicação desses tipos têm aos montes. Mas o pior, de verdade, foi dessa vez eles terem mexido em algo que para mim era o mais importante para o homem aranha: Seu casamento com Mary Jane.

Embora os roteiristas achem que o que faz o herói é apenas o seu “conflito”, ele também é feito pelos personagens coadjuvantes que lhe são importantes, eles é que compõem o seu lado humano! E não havia ninguém, nem mesmo a tia May, que representasse melhor esse lado do escalador de paredes do que Mary Jane Watson Parker. Na perda do primeiro filho do casal, a “descoberta” de que Peter era um clone, eles sempre tiveram um ao outro, complementando-se de uma forma tão perfeita e sincrônica que é difícil ver uma relação tão solidificada quanto a deles em casais tanto nas historias de HQ´s como na vida. E agora, a Marvel decide jogar tudo isso pelo ralo e dizer ao leitor que agora o Peter Parker da cronologia sempre foi solteiro. A ta. Obrigado Marvel.

E agora, qual será a próxima grande saga na vida do aracnídeo, que mudará sua vida “para sempre”? O Retorno de Gwen Stacy? Ah não, isso já deve ter acontecido. Puxa, como é difícil ser original” hoje em dia para escrever historias em quadrinhos...

Um comentário:

Telmo disse...

Ele vai morrer denovo _
quantas vezes o Homem aranha ja morreu nesses quadrinhos ___ >P